Rogerio Steinberg 1965/86

E a substância política chegou também à propaganda. No final do ano passado, às vésperas da reunião do Colégio Eleitoral, duas das mais bem- sucedidas campanhas publicitárias lançadas no Rio de Janeiro tiveram como inspiração a disputa presidencial. Uma delas, criada pela agência Estrutural, procurou simular o debate político entre os presidenciáveis Paulo Maluf e Tancredo Neves. E lançou um insólito anúncio - «0 debate que não houve» ---; em que o humorista Agildo Ribeiro se traveste dos candidatos para vender as qualidades do lançamento da Servenco: o Condomínio Aldeia do Mar, na Barra da Tijuca (RJ).
- Todo mundo estava esperando pelo debate entre Tancredo e Maluf. Como não ocorreu, resolvemos criá-lo- diz o publicitário carioca Rogerio Steinberg, 32 anos, dono da Estrutural.
«Acordo todos os dias religiosamente às 6 da manhã, visto o meu maiô e vou para a praia. Isto sim é um empreendimento com programa», diz o personagem Maluf. Ao que recebe uma resposta imediata do personagem Tancredo: «Meu programa é muito amplo. Porque, além da praia, tem tudo o que a maioria gosta: piscinas, quadras de futebol, vôlei». Criativo, o anúncio que na TV destaca ainda a rica interpretação de Agildo Ribeiro, vai exibindo durante o debate as qualidades do condomínio. No final é irônico: «Tomar posse de Aldeia do Mar é tudo o que eu e mamãe sempre sonhamos», diz Maluf.»

Ricardo Osman
Política na Propaganda Revista ADM, janeiro 1985

Rogerio tinha uma coragem extrema e confiava nos artistas a quem ele contratava, além de um faro miserável para saber o que a gente podia fazer. Eu disse logo a ele que agradecia imensamente, mas que não ia saber nunca imitar o Tancredo Neves, que talvez fosse o mais fácil por ser velho, aquele nariz, a peruca, mas o Maluf então nem pensar. A minha imitação é composta de dentro para fora, ou eu sei, ou não sei. Aí ele me disse:- Agildo, você vai me desculpar, mas você é o único que pode fazer e eu tenho um cachê irrecusável. Eu pedi logo que nem_me dissesse o preço, com a tentação ia ser pior e eu não sabia imitar o Maluf. Ele insistiu, outro teria desistido, endossado o que eu dizia, mas ele tinha muito essa energia, essa tesão de fazer as coisas. Primeiro foi saindo o mais difícil, os óculos, aquela coisa de grau do Maluf,
aquele cabelo, a cara meio sebosa, a pele suarenta que o Maluf tem. Ele tinha me conseguido fitas,
fotografias, até vídeo-cassete. Eu devo 90% a ele no resultado final, que foi fantástico para mim do ponto de vista artístico; o Tancredo foi mais fácil. Essa tinha sido a minha segunda experiência com Rogerio. Antes, na Ilha da Fantasia, eu fiz o Ricardo Montalban, uma perna maior que a outra, terno branco, colete e aquela gravata, com o Jô também esplêndido de anãozinho. Tive com Rogerio dois grandes desafios artísticos que foram esses dois comerciais. Lastimo muito não ter tido um Antonio's na vida da gente, nunca tive com ele um momento de sentar e bater um papo. Costumo brincar com um negócio que é muito triste: dizem que Deus é brasileiro, é possível que sim, mas deve estar no exílio.

AGILDO RIBEIRO
Humorista